Eu posso escolher?
Eu estava no piloto automático até entender que podia decidir também. E já vinha fazendo isso muito bem.

Tem coisas que a gente não escolhe. Privilégios que vêm com a gente, caminhos por onde somos guiados quando ainda estamos sob cuidados da família, situações que simplesmente caem no nosso colo e somos obrigados a lidar. Mas a gente escolhe, a partir do lugar que nos cabe, o que fazer com cada uma dessas situações postas.
Tomar decisões nunca foi o meu forte. O medo de errar me tirou decisões importantes das mãos. Na verdade, por não decidir, eu acabo decidindo de alguma forma, né? Porém, o guarda-chuva da não-decisão me protegia da chuva de erros que poderia vir, e facilitava minha vida respingando a culpa no outro que decidiu por mim.
Esses dias me senti culpada por estar postando foto na praia, afinal, tava na Bahia enquanto muita gente tava na cidade com frio e chuva, ou sem casa com frio e chuva. A mesma culpa que eu sentia por estar na Holanda sempre pronta pra reclamar do clima péssimo do país quase 12 meses ao ano — “pelo menos tava sofrendo na Europa, né?”.
Daí me veio um pensamento: foi tu mesma, dona Jade Maria, que saiu da cidade, percorreu sei lá quantos mil km e veio parar aqui na Bahia.
Foi mesmo. Tive que me dar os créditos.
Evitando cair no lugar de “eu não sei decidir” mais uma vez, resolvi olhar para quantas escolhas fiz do fundo do coração e mostrar a mim mesma as boas decisões que tomei na vida. E, que loucura: para quem achava que só tinha deixado a vida levar, até que tomei umas decisões boas, sim.
Eu disse sim para um relacionamento que me apareceu 2 semanas depois de um término. Ainda tava me acostumando com o que seria da minha vida de solteira, lendo Percy Jackson, O Ladrão de Raios para passar o tempo na sexta-feira à noite no auge dos meus 24 anos. Eu disse sim, mesmo com medo de estar sendo precipitada. O medo se foi em 3 segundos. E digo sim há quase 10 anos.
Fiz uma formação em yoga aparentemente do nada. Poucas pessoas praticavam no meu convívio. Por sorte, uma grande amiga me apresentou uma escola fantástica que mexeu profundamente comigo. Eu só queria aprender mais sobre aquilo que me fazia tão bem. Sem referência nenhuma além dos meses de prática pessoal, me matriculei. Hoje sou professora e amo o que faço.
Juntei todas as minhas vontades de viver pelo mundo desde 2016, quando comecei a trabalhar remotamente (inventei a ergonomia do home office com panelas e caixas muito antes da pandemia e POSSO PROVAR), fiz um pé de meia, e, em 2022, consegui sair com meu companheiro borboleteando por aí sem endereço fixo.
Escolhi — e escolho — todos os dias há quase três anos lidar com o desconforto de viver com a casa no carro, com uma mala de roupas, com a despensa em caixas, dormindo com o colchão e travesseiro que tem nas casas em que ficamos. Tentando usufruir da melhor maneira os espaços que se apresentam (e que nem sempre têm decks de madeira maravilhosos ou vista para montanha).
Eu escolhi cursar jornalismo. Eu escolhi estudar yoga. Eu escolhi ter uma alimentação vegetariana. Eu escolhi viver perto da natureza. Eu escolhi fazer terapia. Decisões que me orgulho de ter tomado, apesar dos perrengues inerentes.
Tudo isso da minha cabecinha.
Agora bora alugar um triplex aí nessa cuca porque preciso de companhia para viajar sobre isso mais profundamente: que decisões tu não dás tanto valor, mas se olhar bem te orgulhas muito de ter tomado?
Não precisa ser algo gigante, que mudou o rumo da tua história. Mas nada impede que seja também. Essa reflexão pode inclusive mostrar como antigas decisões que tu consideravas menores, na verdade, criaram caminho para o teu próximo passo — simplesmente por serem tuas!
Estar na estrada me coloca frente a frente com escolhas o tempo inteiro. Logo eu, que comecei o texto dizendo que não sabia tomar decisões, escolhi escolher o tempo todo ao escolher uma vida itinerante.
Eu não sei onde vamos dormir hoje. A gente vai até onde cansar, descendo em direção a Santa Catarina. Eu não sei onde vamos parar para almoçar. Não tenho ideia do jantar. O plano é não ter plano e confiar no que a Jade do futuro decidir na hora, com as ferramentas que tiver à disposição. Ainda que aceitar as escolhas seja exercício diário por aqui.
Certo e errado ainda são duas vias bem demarcadas no meu GPS. O arrependimento vem quando alguma escolha parece não ter sido tão acertada assim. Tô tentando entender que tem um caminho de chão batido, meio esburacado, meio erradinho, meio certinho, mas que é meu. E valorizar isso sem depender de validação externa é um baita exercício.
Por via das dúvidas, temos no porta-malas uma caixa com mantimentos. E uma barraca. Vai que.
Decididos (ou nem tanto) *ruídos de mate*,
Jade
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<3
se passar pela Guarda do Embaú da um oi