Antes de saber da notícia, eu estava fazendo uma lista com destinos de caminhadas e trekkings que eu ainda quero viver. Lugares que nunca fui; outros que eu iria mais uma vez e muitas vezes. Senti um frio na barriga ao pensar em cada um deles.
Sonho com as Dolomitas, na Itália; com as montanhas no norte da Albânia que ficaram de fora do roteiro em 2023; com as montanhas Quirguistão e Tajiquistão; com vulcões na Guatemala; com El Bolsón (mais uma vez e sempre); com o circuito W em Torres del Paine; Monte Roraima; Chapada dos Guimarães, das Mesas… todas essas possibilidades me tiram o sono e me levam a lugares que quero vivenciar bem desperta.
Neste exato momento, escrevo de costas para a televisão e de frente para o fogo da lareira. Nem liguei a TV. Não me animei a ver o jornal. Depois de uma manhã tão focada em sonhos que quero realizar, sem pensar se sou mulher, se vou sozinha ou acompanhada, se vai dar certo ou não, eu realmente não esperava por aquela notícia. Acreditei que Juliana ficaria bem.
Mas a notícia chegou triste.
Com o passar dos dias, mais e mais comentários. A falta de estrutura e de recursos do parque e das agências de turismo não foram os destaques, mas sim a própria vítima que se atreveu a viajar sozinha, afinal, quem ela pensa que é para sair por aí?
Costas largas as de quem resolve se aventurar pelo mundo. Especialmente sendo jovem, mulher e negra.
Julgar os outros é o que tem de mais fácil (e prazeroso) nesse mundo. E como é triste isso. Como é triste ter que julgar a vida do outro para sentir que a tua vida faz mais sentido.
Quantos “eu avisei” cabem na tentativa de diminuir uma escolha? Quantas desculpas apontam os privilégios em vez de observar o valor da decisão? Que “razão” é essa que sustenta tanto desprezo pelo diferente?
Tem quem ache linda a vida nômade que eu e meu companheiro levamos, que meu irmão cicloviajante leva e tantos amigos pelo mundo também. Mas volta e meia, essas mesmas pessoas reagem dizendo:
…“são uns doidos! Um dia a conta chega. E quando forem mais velhos, o que vão ter? E sem diplomas, o que vão ser? Largando carreira certa por duvidosa, o que têm na cabeça? Vão viver de luz? Tão achando que podem tudo? Vão viver de férias até quando?”
Tanto para ir quanto ficar é preciso coragem. Coragem de escolher.
Eu não julgo quem fica. Não tento convencer ninguém a ir. Trago a real da vida itinerante desde que saímos de Porto Alegre em 2022. Não é fácil. Mas quero seguir.
Espero que o que aconteceu com a Juliana não crie barreiras para outras mulheres irem. Quero encontrar muitas de nós por aí nas estradas, trilhas, montanhas, cidades, praias. Encorajando umas às outras, incentivando escolhas conscientes e exigindo um turismo mais seguro em todos os lugares.
Por ela e por tantas que já se aventuraram, vou seguir em direção ao que faz o meu coração bater mais forte. Apenas observando os julgamentos, sem me apegar a eles. Um exercício de meditação, autoconfiança e coragem.
Bora?
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Deixo aqui meus mais sinceros sentimentos à família e amigos da Juliana Marins.
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*ruídos de mate*,
Jade
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Baita reflexão... bem assim 🙌🙌🙌
Lindo texto amiga. Você tem muita sensibilidade com as palavras e foi uma bela homenagem para a Juliana.