Meu superpoder é dar o play
E quando a música dança um xote com o momento é epifania pura
Começa uma música em alemão. Automaticamente minha personalidade adolescente toma conta. Aparecem Fito, Charly, Spinetta, e com essa turma do rock argentino vem uma força, uma energia, algo visceral que me inspira. Chegam Perota Chingó e outras mulheres e me empurram para dentro, para uma escuta interna, quase melancólica, e suas vozes me remontam a partir das cinzas. Vitor Ramil aparece calmo, me fazendo refletir no arrastar de um dia nublado. Mantras se aprochegam me conectando com a parte mais leve, com o que tem de mais puro em mim. Música popular brasileira preenche como onda, cada canto, cada espaço com a mais pura vida.
Basta um acorde para virar uma chavinha. Tem dias que sei exatamente o que preciso ouvir; é natural, é instintivo. Em outros, estou tão bleh que posso ficar horas no Netflix Spotify buscando.
Mesmo assim, dou o play. Uso esse momento sabendo que a partir dali tudo pode mudar. Dar o play é o meu superpoder. Ele potencializa tudo. Muda tudo. Se o momento que estou vivendo se encaixar com a trilha sonora dos fones de ouvido, posso acertar numa alegria intensa, num grande drama ou um belíssimo ponto de virada daqueles que ilustrariam até um clipe.
O dia pode ser salvo pelas meninas super poderosas por um play na música certa.
Já pensou nisso?
Tem dias péssimos que só segurando na mão da Nossa Argentina. A música que ouvíamos na época das longas viagens na Patagônia parece que me segura no alto. O coração fica suspenso, não dá tempo de deixar a peteca cair. É uma energia que flui e fica ali circulando. Dá vontade de fazer as coisas, de criar. É energia de criação. Essa playlist foi nosso antidepressivo nos dias mais nublados na temporada Holanda. Dava pra fechar os olhos e sentir a Patagônia, as estradas infinitas, a natureza exuberante, o povo acolhedor e a comida farta. Também né, quem mandou sair de um país como a Argentina pra ir pro primeiro mundo?
Outros dias, a revolução vem de um mergulho num mundo só meu, que pouca gente conhece. Minha playlist Auf Deutsch. Gosto dessa bolhinha de sabão adolescente. Até hoje as músicas alemãs me levam praquela fase de frio na barriga, descobertas e aquela vontade de jogar tudo pro alto e fugir. Lembro da sensação de quando eu tinha muitas portas sérias a abrir na vida e como falar alemão me levaria além. Corta pra cena, estou eu usando minhas habilidades em hoch deutsch para fazer amizades com gringos depois de alguns copos de cerveja (não posso dizer que isso não nos abre algumas portas também hehe).
Para me conectar com o meu feminino, tenho a minha Mulheres. Vai de Triste, Louca ou Má a Survivor, passando por Anhelando Iruya e Gracias a La Vida. Um mixzão de sons somente de mulheres. Músicas que me tocam profundamente e que já me acolheram tantas vezes.
Antes que me caluniem, não, não é post pago ou propaganda das minhas playlists, até porque muitas delas são fechadas. Eu nunca fui a pessoa que sabia nome de músicas, ou dos artistas, especialmente estrangeiros. Nunca me liguei nisso. Então tem muitas que amo, me tocam e tocam no meu aplicativo, e eu nem saberia citar aqui. Elas aparecem na vida quando têm que aparecer.
Tenho salvado mais músicas e criado listas de reprodução com mais frequência. Uso meu superpoder de virar a chave com canções que dançam um xote com o momento — e aconselho fortemente.
Munida com meus fones de ouvido e desferindo um toque direto e fatal no triangulozinho virado de lado na tela do tocador de música, sinto que consigo recalcular a rota até mesmo dos dias mais difíceis. Seja para chorar ainda mais, seja para me encher de energia. Confiando que algo vai mudar dali para a frente.
“Aunque me fuercen yo nunca voy a decir
Que todo tiempo por pasado fue mejor
Mañana es mejor”Cantata de Puentes Amarillos, Luis Alberto Spinetta
Me conta: uma música ou artista já mudou teu dia, acolheu teu drama ou acelerou tua virada de chave?
Musicais *ruídos de mate*,
Jade
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